Investir em estatais é uma decisão que envolve analisar números, riscos e potenciais retornos. Abaixo, exploramos dados, perspectivas e recomendações para orientar investidores.
Em 2024, as estatais federais registraram um déficit de R$ 6,7 bilhões, o maior em 23 anos. Esse resultado surpreende, especialmente quando comparado ao superávit de R$ 10,3 bilhões obtido em 2019.
No primeiro trimestre de 2025, o déficit acumulado já alcançava R$ 2,7 bilhões. Esses números incluem empresas como Correios, Infraero, Casa da Moeda e Dataprev, mas excluem instituições financeiras.
É importante diferenciar déficit fiscal e prejuízo operacional. O primeiro reflete investimentos financiados com caixa próprio, nem sempre sinal de ineficiência.
O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 prevê arrecadação de R$ 33,8 bilhões em dividendos de estatais federais, distribuídos da seguinte forma:
Não há previsão de dividendos extraordinários para 2025, pois espera-se uma postura conservadora, principalmente após a redução no volume de recursos do BNDES.
O investimento das empresas estatais federais cresceu 44,1% em 2024 em relação a 2023, atingindo R$ 96,18 bilhões. Esse aumento demonstra a estratégia de expansão em infraestrutura, logística e tecnologia.
Entre as 20 principais estatais, os investimentos subiram 12,5%, totalizando R$ 5,3 bilhões e representando 83% do déficit primário de R$ 6,3 bilhões daquele ano.
Das 20 maiores, 16 devem registrar lucro contábil em 2024, enquanto 4 projetam prejuízo. Entre elas, 11 apresentam déficit primário, mas 9 ainda acumulam lucro em seus balanços.
Historicamente, o mercado aplica desconto nas estatais devido ao risco de interferência política, mesmo em setores lucrativos. A tabela abaixo compara a variação das ações de estatais e privadas em 2025:
Enquanto concorrentes privadas registraram ganhos expressivos, as estatais sofreram desvalorização, mesmo após resultados trimestrais positivos.
Em dezembro de 2024, o governo anunciou medidas para modernizar a governança e gestão das estatais, buscando maior produtividade, eficiência e sustentabilidade financeira.
Uma nova comissão foi criada para definir diretrizes de participação acionária, acordos de governança, remuneração de administradores e distribuição de dividendos, com foco em práticas de mercado.
Apesar dos desafios, há vantagens atrativas para o investidor consciente:
Por outro lado, riscos inerentes ao controle estatal podem afetar o desempenho:
O perfil do investidor institucional, especialmente estrangeiro, sofre restrições devido ao ambiente regulatório brasileiro. Ainda assim, sua presença pode fomentar melhores práticas de governança e proteger acionistas minoritários.
A atratividade das estatais está atrelada ao ciclo político. Em períodos de forte intervenção, observa-se maior volatilidade e descontos maiores nas cotações.
É fundamental que o investidor distinga entre rombo fiscal ligado a investimentos e prejuízo operacional, evitando conclusões precipitadas ao analisar relatórios financeiros.
Investir em ações de empresas estatais exige uma análise cuidadosa de variáveis financeiras, políticas e de governança. Os altos dividendos e o papel estratégico dessas empresas podem oferecer oportunidades de retorno atrativas.
No entanto, o risco de interferência governamental e a volatilidade decorrente de ciclos políticos são fatores que exigem disciplina e visão de longo prazo do investidor.
Em última instância, diversificar a carteira e acompanhar de perto as reformas de governança são práticas indispensáveis para quem deseja incluir estatais no portfólio de forma segura e rentável.
Referências