Em um país de dimensões continentais e realidades tão diversas, a inclusão financeira deixou de ser apenas um tema econômico para se tornar um movimento transformador de vidas. Hoje, a tecnologia atua como principal propulsora na democratização do acesso a serviços bancários e de crédito.
O Brasil alcançou recentemente a marca de 200 milhões de CPFs registrados em algum relacionamento com o Sistema Financeiro Nacional, consolidando um crescimento histórico em apenas uma década. Em 2012, eram 119 milhões de adultos bancarizados; em 2022, esse número já atingia 168 milhões.
Nesse período, o país subiu do 35º para o 21º lugar no Índice Global de Inclusão Financeira, com 89,8% da população tendo vínculo bancário. Esses dados demonstram que a simples abertura de contas exige desdobramentos para garantir acesso a produtos financeiros robustos.
O lançamento do Pix em 2020 acelerou a digitalização de pagamentos e foi classificado como um verdadeiro case internacional de democratização bancária. Em poucos anos, mais de 25 milhões de estabelecimentos passaram a aceitar Pix, superando em muito a penetração de cartões antes existente.
Além disso, surgiram iniciativas como o Open Finance e as fintechs, que impulsionaram a expansão expressiva da bancarização no Brasil. Essas soluções permitiram a oferta de microcrédito, cobrança instantânea e microinvestimentos mesmo em áreas mais remotas.
O conceito de integração de serviços financeiros em empresas de outros setores promete gerar até R$ 24 bilhões em receitas até 2026, reforçando que soluções inovadoras podem conviver em diferentes ambientes de consumo.
Apesar dos avanços, ainda há obstáculos significativos. Apenas 41% dos brasileiros acima de 15 anos tomaram empréstimos em 2021, contra 56% em países de alta renda, o que evidencia a dificuldade de acesso ao crédito.
A bancarização isolada não garante o uso efetivo dos serviços. Muitos usuários enfrentam limitações para utilizar produtos financeiros avançados e se sentem intimidados por processos complexos.
É fundamental que a expansão das contas seja acompanhada de programas sólidos de educação financeira, garantindo que cada cidadão entenda e utilize as ferramentas disponíveis de forma segura e eficiente.
O acesso a produtos financeiros permite a melhoria da gestão de recursos pessoais, o surgimento de pequenos negócios e a criação de perfil de crédito. Esses fatores têm relevância direta no combate à pobreza e na redução de desigualdades.
Segundo dados do Banco Central, em 2023 havia 213 milhões de assinaturas móveis – um indicativo claro de que o mobile banking alcançou até as localidades mais remotas.
Esse avanço reflete também a inclusão de classes C, D e E, comunidades indígenas e pessoas com deficiência, que passaram a contar com cartões em braile e aplicativos acessíveis.
As inovações não param: o Pix por aproximação promete facilitar pagamentos em pequenos comércios, enquanto a moeda digital (Drex) do Banco Central pode representar um novo salto na digitalização financeira.
O ecossistema de finanças embarcadas tende a se fortalecer, integrando soluções de microseguro, previdência complementar e gestão orçamentária diretamente nos canais de compra.
Para que esse cenário se concretize, é essencial que reguladores, fintechs, bancos tradicionais e empresas de tecnologia atuem de forma colaborativa. As parcerias público-privadas e as iniciativas do Banco Central, como a Agenda BC#, devem continuar promovendo soluções que contemplem as necessidades de todos.
Conclui-se que a inclusão financeira, aliada à inovação tecnológica, não é apenas um indicador econômico, mas um verdadeiro instrumento de transformação social. A cada nova conta aberta, a cada nova transação digital, construímos um Brasil mais igualitário, em que o acesso aos serviços financeiros deixa de ser privilégio para se tornar um direito ao alcance de todos.
Referências